Luiz Pinto Ciulla nasceu em Porto Alegre, 21 de junho de 1911. Filho de um imigrante italiano (Salvador Ciulla) proveniente da cidade de Católica Eraclea na Sicília. Salvador, pai de Luiz, veio com os demais membros da família visando, inicialmente, trabalhar em Buenos Aires na Argentina.
Vieram em busca de melhores condições de vida, eram artistas e artesões. A mãe de Luiz Ciulla chamava-se Antonina Pinto, nascida em Porto Alegre, filha de imigrante Português (Antônio Pinto) que trabalhava no comércio. O mesmo tinha três navios, que traziam petróleo do porto de Rio Grande para Porto Alegre. Salvador (pai de Luiz Ciulla) casou em Porto Alegre com Antonina (conheceram-se no Brasil). Tiveram uma prole de nove filhos. Sendo Luiz o segundo. Moravam numa chácara na avenida Farrapos, lugar em que passou sua infância. Brincava muito com os irmãos, e ainda pequeno se destacava por ser uma criança esperta, tanto que seu avô materno, notando esta qualidade queria levá-lo à Portugal para estudar Direito em Coimbra, mas sua mãe Antonina não consentiu.
Luiz Ciulla estudou no colégio Anchieta. Nos primeiros anos da escola, era uma criança criativa e passava as aulas desenhando e pouco se importava com estudos. Até que um dia, no primário, um dos padres disse-lhe: “seu pai é um homem muito bom e trabalhador, tem nove filhos para criar e você passa a aula toda desenhando, nem vale a pena vires para a escola, pois, se um dia tiveres um anel não será de doutor e sim de carroceiro”. Estas palavras o marcaram muito. Desde então ele começou a se empenhar nos estudos e tirar boas notas. Mas inicialmente os professores pouco acreditavam nele. Até que então, numa lição oral, cujas respostas eram todas corretas, o padre (professor) deu a nota sete, e um colega que no futuro se tornou neurologista (Celso Aquino) contestou o professor dizendo que Luiz havia acertado toda prova, porque então tiraria nota sete! O padre jesuíta perguntou então para Celso que nota ele merecia! Celso respondeu: “nota dez”. O Padre deu nota nove.
Aos poucos os professores foram percebendo que Luiz realmente vinha se dedicando aos estudos. Neste período começou a ser sempre o aluno com as notas mais elevadas da classe. “Às vezes fazia travessuras e recebia castigos”. Nos castigos tinha que estudar latim, desde então passou a fazer poesias em latim. Luiz Ciulla se tornou o melhor aluno do colégio Anchieta até o final do curso. No último ano do colégio, os professores jesuítas resolveram colocar alguns alunos em teste e novamente Luiz ficou em primeiro lugar. Nesta época Getúlio Vargas, que havia estudado nesta escola, era governador. Em uma homenagem presenteou Luiz (o melhor aluno) com uma bela máquina fotográfica. O que na época representava um grande reconhecimento.
Luiz Ciulla decidiu estudar medicina. O seu irmão mais velho Saul Pinto Ciulla (futuro ginecologista obstetra), já havia entrado na Faculdade. Saul também sempre foi muito reconhecido pelo trabalho, realizou inúmeros partos em Porto Alegre com extrema competência. Luiz ao estudar para o vestibular, ingressou na faculdade de medicina, em primeiro lugar na UFRGS. Fez toda faculdade obtendo a maior média final, e recebeu uma medalha de ouro – prêmio D. Amelia Berchon des Essarts (este prêmio é destinado ao estudante da Faculdade de medicina que fizer e terminar seu curso com as notas de merecimento mais elevadas), se formou em 1935 e foi o orador da turma.
Após o término da Faculdade começou a trabalhar na área da neurologia (doenças do sistema nervoso), que englobava neurologia e psiquiatria. Passou no concurso público como médico do hospital psiquiátrico São Pedro, atuando nas áreas de neurologia e psiquiatria. O diretor do hospital, na época, era Dr. Jacintho Godoy. Luiz, por sua dedicação, ainda muito jovem, com apenas 23 anos, chamou a atenção de Godoy por sua inteligência e competência no trabalho. Os dois médicos debateram inúmeros casos clínicos e iniciaram uma grande amizade. Jacintho então diretor do hospital fez sua formação em psiquiatria na França com renomados psiquiatras Europeus.
Com a fundação do Sanatório São José por Jacintho Godoy e Álvaro Barcelos, empresário na época, Luiz Ciulla passou também a trabalhar como médico residente neste Sanatório, portanto os laços de amizade se intensificaram com a família Godoy.
Aos 30 anos de idade, Luiz casou-se com Elsa De Leo (23 anos) filha de imigrantes italianos. Elsa, sua esposa, era filha de José De Leo que veio da Itália trabalhar no comércio, tornando-se um comerciante muito importante. Elsa dedicou-se ao magistério e também foi uma aluna de destaque do colégio Sevigné. Ela se tornara professora e futura diretora da escola em Alfredo Chaves (Veranópolis). Retornou a Porto Alegre, onde se casou com Luiz. Elsa se dedicou ao lar e associações beneficentes, tornando-se presidente da associação Madre Augusta do Sevigné. Deste casamento teve dois filhos, Maria Madalena Ciulla, historiadora, e Abelardo Ciulla, médico psiquiatra. Abelardo, casado com Inge Ciulla, professora em letras e escritora. Abelardo e Inge tiveram dois filhos (netos de Luiz) Leandro Ciulla e Veronica Ciulla, também médicos psiquiatras.
Por volta de 1946 Luiz Ciulla com 34 anos realizou sua especialização em psiquiatria na Universidade de Columbia em Nova York. Retornou dos Estados Unidos após 2 anos de curso. Ao retornar aumentou consideravelmente a procura de pacientes por ele. Neste período Dr. Godoy veio a falecer. Na clínica São José ficaram trabalhando o filho de Jacintho Godoy e Luiz Ciulla. Luiz prestou concurso para professor assistente do Hospital São Pedro, obtendo novamente o primeiro lugar. Nesta época os contemporâneos eram Cyro Martins, Mário Martins e Victor de Brito Velho. Luiz e Jacintho Godoy eram mais dedicados a psiquiatria clínica, na época as escolas francesas e americanas davam ênfase a neuropsiquiatria, tratamentos biológicos e psicofarmacologia.
Luiz publicou vários trabalhos científicos. Em 1976 escreveu o livro “Saúde Mental, nas Etapas da Vida” para profissionais de saúde mental, estudantes de medicina e psiquiatria e para população em geral. O livro foi lançado no IV Congresso Brasileiro de Psiquiatria realizado em Fortaleza.
Faleceu aos 67 anos de idade, vítima de complicações da artrite reumatoide em 16 de março de 1979. Luiz Ciulla tinha uma personalidade otimista, era muito trabalhador e dedicado a família e aos netos, cativante pela sua erudição. Uma pessoa reservada e amorosa com a família, e quando tratava de assuntos referentes a psiquiatria mostrava grande entusiasmo. Foi diretor do Hospital São Pedro em 1961 a 1962. Conseguiu em sua gestão humanizar mais o tratamento do doente mental, aumentando sua assistência, pois nesta época havia uma grande carência, nos cuidados com a saúde mental